sexta-feira, 29 de março de 2013

spinLeaks

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Continuação da anamnese

No momento JL está num café-byte. Chega Camila.

Enunciando_anunciando Camilla: ela tem mais ou menos 20 anos, é artista plástica. Estudou artes visuais na UFG.

Camila: olá!!!  Aquela obra sua, da exposição “Diálogos Possíveis...”  Você tem fotografia dela? Você tem o texto?

JL:  Não. Não tenho fotografia de nada.  A forma como eu trabalho é tão complicada. Se você me pedir um texto ou uma fotografia eu não tenho. Vá lá em casa que você vê. É um amontoado de papéis. Dias atrás, quase fui morto por estrangulamento. Na ante_sala da morte, até achei bom. Naquele momento vi que, durante a vida, a gente acumula tantas coisas inúteis, fora o mais grave, que é o querer estar no lugar do outro, a chamada inveja. Depois de ter sido abraçado pela morte, mudei bastante. Posso tentar, talvez alguém possua fotografia da obra, acho que o Caio, vou entrar
em contacto com o Carlos Sena.

Camila: você não guarda nada?

JL: Não. Está tudo com meus médicos  e/com aqueles que, de uma certa forma funcionaram como médicos para mim. Médico enquanto interlocutor íntimo, privado. Médico enquanto pessoa com a qual você conversa abertamente sem  preocupação estética. Médico(a) sim, a partir do momento em que você pode expressar-se com liberdade, sem o medo de ser podado por falar em Deus, sem medo de ter a presunção de ser um ser divino. Então é assim. Minhas coisas estão com os spin médicos. É que na cidade-Estado de JL é assim: as pessoas constroem, no contacto com seu spin médico, que inclusive pode ser um filósofo_clínico, sua anmanese. Esta anamnese é o que interessa. Com o tempo, se for o caso, esta anamnese pode vir a público , seja em forma de fragmentos ou como um todo, seja em forma de música, teatro, artes plástcas, literatura, etc. Falando em literatura, neste fim de semana ouviu o conferencista Lepê Coréia, no seminário Tolerância e Diálogo, Religião e Cidadania, promovido pela Fundação Cultural
Pamares do Ministério da Cultura, a Federação de Umbanda e Candomblé de Goiás e Governo de Goiás. O Lapê né nota 10. Ele é fantástico. Mestre em Teoria da Literatura, é de Recife- ( não sei o nome do rio que banha_olha_é Recife-PE, por isso dizer apenas Recife é muito pouco. É como escrever Goiânia sem escrever seu sobrenome: Rio Meia Ponte) e, por ser negro,  já comeu o pão que o diabo amassou, como por exemplo, em companhia do filho, ter a sua entrada numa loja bloqueada, fato que foi parar na Polícia, mídia e parlamento, o que resultou no fechamento da loja da spin racista. Se ele morasse aqui, eu gostaria que ele fosse meu médico. Ele é 10. Ele deixou disponível o seu e-mail muxima75@hotmail.com  ele não anunciou o site dele mas anotei errado, anotei lape.correia.ibest.com.br. Pesquisando na internet não localizei site de Lepe Correia. Na Net ele está enunciado_anunciado assim:



L e p ê
C o r r e ia



TEIMOSA PRESENÇA

Eu continuo acreditando na luta

Não abro mão do meu falar onde quero

Não me calo ao insulto de ninguém

Eu sou um ser, uma pessoa como todos

Não sou um bicho, um caso raro

ou coisa estranha

Sou a resposta, a controvérsia, a dedução

A porta aberta onde entram discussões

Sou a serpente venenosa: bote pronto

Eu sou a luta, sou a fala, o bate-pronto

Eu sou o chute na canela do safado

Eu sou um negro pelas ruas do país.

Lepê Correia

LEPÊ CORREIA nasceu em Recife, em 1952. Mora nessa cidade atualmente. É Psicólogo, Jornalista, mestrando em Filosofia e Professor. Edita o jornal Djumbay, é músico e membro diretor do Intercab-PE. Também é Omó Órisá, Ogã.

Continuação da anmnese

Camila: vou te dar meu e-mail. Quero te acompanhar.

JL: será que você não vai se incomodar? Não há regras. Posso inclusive nem enviar nada. Você vai pegar o bonde andando. Talvez você não entenda nada. E mal entendidos, a falta de se conhecer o outro quer dizer inimizade. E não quero que sejamos inimigos por causa de e-mails insuportáveis. Tudo bem,  se você quer.... Você tem o direito de dizer não, como trocar seu e-mail por outro ou, como fez a Cecília Cotrim, gritar: CHEGA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Sei lá, você vai pegar o bonde andando.

Camila: não tem problema.

JL: é uma seqüência. Acaba no 70. Dias atrás, um amigo, o Alexandre Pereira... Ele é artista. Você o conhece?

Camila: sim. Do grupo Empresa. Conheço sim.

JL: ele está no Amazonas. Conheço-o o suficiente para dizer que a intenção dele foi boa ao dizer “inclua na sua lista de endereços o e-mail do Edson Barrus e da Cecília Cotrim.” Esta não entendendo o que estava se passando ou talvez entendendo e não gostando nem concordando, enviou-me uma mensagem mais ou menos assim, em letras maiúsculas para dar a entender tratar-se de um grito “EU NÃO ACREDITO EM DEUS, EU NÃO SEI DE ONDE ESTÁ VINDO ESSA COISA LUCA, MAS GHEGA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!” Trata-se da experiência referente às conseqüências do ser invasivo, do não dizer-se suficientemente, do não enunciar_se, do não anunciar-se, do entrar pela porta que não está aberta. A não ser que você assuma-se como alguém que quer, propositalmente, invadir, ser invasivo, não pode se surpreender com a resposta do outro,  que pode inclsusive mata-lo, os exemplos estão por aí, mortes decorrentes de invasão de propriedade do outro, que digam os personagens da tragédia de Eldorado dos Carajás, que redundou
na morte de 19  invasores do MST. A história é a mesma. Não se pode invadir o e-mail do outro. Ninguém gosta de receber mensagens de desconhecidos, nem via e-mail nem por telefone. A Cecília Cotrim está mais do que coberta de razão. JL foi, embora sem saber, invasivo até dizer chega: “CHEGA!!!!!!!!!!!!!!!!” Tais fatos não deixam de ser enriquecedores e fonte de aprendizado para JL. Tudo faz parte desta história_anamnese. Anamnese de uma comunidade que, às vezes, de um sistema.

Camila: qual é seu nome artístico?

JL: não tenho nome artístico. Aliás, tenho vários nomes. Às vezes sou MMMV,  Metade Mortífero Metade Vivificante. Às vezes  SPIN, Sistema Patológico Informativo Nato. JL,  D, Da Lata, e por aí vai.

Camila: no momento você é quem?

JL: no momento  quem fala com você é  MPMP, Metade Poético Metade Patológico. Um deus que não é duas partes, não é dualidade, mas uma só parte formada por duas:  negro e branco, morte e vida, poético e patológico, etc,  duas metade formando um só corpo_olho_ser.

Camila: quem é seu médico atualmente?

MPMP: nem sei. Não sei se é o Lepê ou o Jorge de Lima ou Carlos Lima Melo ou você. No momento, você é que é minha médica. Você não está me ouvindo. Então quem faz este papel de ouvinte é médico. Os nossos amigos são nossos médicos.  Às vezes um só amigo, às vezes uma Junta Médica, para quem você pode chegar sem anunciar-se_enunciar-se sem o risco de ouvir o grito tal como o da artista Cecília Cotrim: “CHEGA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!”

Camila: dos seus médicos(as), de qual você mais gostou?

MPMP: MPMP gostou mais do Ney Matogrosso, na época era Ney Sousa Pereira e atendia no Hospital de Base de Brasília. Ele deixou de ser médico para virar  hippie e, influenciado por este movimento libertário,  virou artesão,  em seguida ator e, mais pra frente, assumiu o que ele é: cantor. Ele foi o  primeiro  vocalista da banda Secos & Molhados. Depois seguiu a carreira de cantor-solo, de forma que, após ter-se despedido dele, veio a revê-lo no show Feitiço.

Camilla: e como foi revê-lo?

JL: no Hospital, MPMP escrevia, rabiscava tendo o Ney como receptor/ouvinte/leitor. Nada mudou no que diz respeito a este percepção quando, anos depois, o reencontrou. MPMP escreveu a carta contra o sistema taylorista a que somos submetidos. A carta era intitulada “Reflexão Sobre o Não Racionalismo de Ney Matogrosso.”  Foi no período da tarde. No momento chovia muito. MPMP estava sob a marquise do Hotel Umuarama, na Rua 4, Centro, em Goiânia – Rio Meia Ponte.  O seu médico e, agora cantor, sorriu e disse: “para mim?”. E´que MPMP estava com a carta “Reflexão Sobre o Não Racionalismo de Ney Matogrosso na qual lhe disse da nossa liberdade perdida com a implantação do sistema taylorista.  no palco uma coisa e, fora, médico.  e, depois, como cantor_solo.  Ney Matogrosso, goi o inventor_inspirador da práxis terapia.

Foi bom reencontrar seu médico tanto tempo depois.

Camila: se o Ney te reconheceu?

JL: não. Impossível. Quando o Ney viu MPMP este era criança. Mudou tanto! Não havia como ser reconhecido como seu ex-paciente. Quando MPMP esteve no HBB, se não se engana,  tinha  entre 5 e 10 anos. O seu médico tinha uns 25. Quer dizer, quando Ney viu MPMP novamente,  em 1983, MPMP estava com  25 anos ( nasceu em 7.1.1959, em Sambaíba- Rio Balsas, que chamam Maranhão). Já o Ney, agora cantor-solo,  estava com 42 anos  (nasceu em 1.8.1941, em Bela Vista, não sei o nome do rio que banha esta cidade, na época chamavam de Matogrosso.).

Camila: o Ney havia mudado muito?

MPMP: Não. Para MPMP era o mesmo cara dedicado  e com uma infinita capacidade de ouvir_ler_  o outro. Não mudou. Era o mesmo de sempre.

Camila: você continua tendo o Ney como seu médico?

MPMP: sim. Tem-no como interlocutor íntimo_privado. Quando ele veio aqui pela última vez, por ocasião do aniversário dos 70 anos de Goiânia – Rio Meia Ponte, MPMP entregou para o spin cantor_médico parte de sua anamnese.  JL Mesmo após ele passar a ser cantor, continuo vendo o Ney como meu médico. E MPMP não consegue se desvencilhar disso. Tanto isto é verdade que quando o Ney vem aqui, está lá MPMP com seus escritos e objetos sensoriais para lhe entregar. Dias atrás,  durante a dormência, o Ney cantou Gyta,  de Raul Seixas.  O spin cantor cantou olhando nos olhos de MPMP. Após o término do show, MPMP deparou-se, no lado de fora,  com um pe_nascedouro de laranja em forma de meia lua, muitas laranjas. Metade árvore metade lua. Falando nisso, MPMP precisa parar um pouco para fazer um chá de folha de laranja.

Grato,

José Carlos Lima


O que é isto?
MPMP, Metade Poético Metade Patológico, um livro

Após o momento 70º, grafar
Na capa: MPMP
Na contra-capa, assinada por quantas pessoas quiserem: Nós gostaríamos que todos atentassem para esta realidade
Na primeira apresentação, assinada por quem quiser: MPMP através de sua anamnese, expressa-se em sua cidade-Estado cujos meses do ano  são Marte (07/01 a 20/03. 73 dias.74 em ano bissexto), Júpiter (21/03 a 01/06. 73 dias ), Saturno (02/06 a 13/08. 73 dias), Urano (14/08 a 25/10. 73 dias ) e Netuno (26/10 a 06/01. 73 dias)